Nota do Departamento de Antropologia sobre as Manifestações Transfóbicas

29/07/2022 13:30

 

O Colegiado do Departamento de Antropologia vem a público manifestar seu repúdio contra as recentes manifestações transfóbicas ocorridas nas dependências do banheiro feminino do prédio do Centro de Ciências da Educação (CED), que tem sido utilizado pelo conjunto de docentes e discentes do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, em função das reformas em suas edificações.

É inadmissível que uma instituição pública de ensino superior, que deveria garantir ambiente seguro de maneira a reverter as históricas estatísticas de privação da população trans do direito à educação universitária, ressoe os discursos de ódio e o recrudescimento da violação dos direitos humanos das pessoas LGBTQIA+ que ocorrem atualmente no Brasil.

Não esquecemos que o Brasil angaria o lamentável reconhecimento internacional de ser o país que em que mais pessoas trans são assassinadas. Em 2021 foram identificadas 140 mortes (ANTRA, 2022), dado ainda subestimado diante da total falta de informações sobre a identidade de gênero nos Sistemas de registros oficiais do país.

Nesta conjuntura, o uso de banheiros públicos tem representado uma particular arena de enfrentamento e de graves violações à dignidade e aos direitos humanos das pessoas trans, em virtude da produção e disseminação de pânicos morais que desumanizam as existências cisheteronormativas dissidentes.

A antropologia, campo científico vocacionado à alteridade, há mais de 90 anos tem produzido conhecimento sobre o que hoje denominamos questão trans e tem contribuído para a desessencialização das identidades de gênero e de orientação sexual. Na UFSC, o departamento de antropologia tem contribuído teórica e politicamente para o reconhecimento dos direitos das pessoas trans e para o enfrentamento de estigmatizações e violações de direitos humanos.

Reiteramos nosso compromisso histórico com a construção de uma sociedade plural, de uma educação democrática e inclusiva e instamos à comunidade acadêmica a unir-se à luta pelo reconhecimento dos direitos de pessoas trans e ao enfrentamento da transfobia por meio de ações pedagógicas voltadas à promoção de uma universidade plural e inclusiva.

Chega de transigir com violência e desumanização.